Governo brasileiro espera possível reação de Trump à operação da PF contra Bolsonaro
- Deyse Melo

- 18 de jul.
- 3 min de leitura
Após ação da PF autorizada pelo STF, governo brasileiro se prepara para eventual ofensiva dos EUA contra Alexandre de Moraes baseada na Lei Magnitsky

A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (18), com foco no ex-presidente Jair Bolsonaro, reacendeu tensões no cenário internacional. Embora a ação esteja sob coordenação do Supremo Tribunal Federal (STF) e não tenha partido do Ministério da Justiça, o governo Lula já trabalha com a possibilidade de uma reação dura por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A avaliação no Palácio do Planalto é de que a investigação conduzida pela PF evidencia a independência entre os poderes no Brasil. Ainda assim, integrantes do governo monitoram com atenção os sinais vindos de Washington, especialmente após a nova carta divulgada por Trump em defesa de Bolsonaro, na esteira de uma entrevista concedida por Lula a uma emissora americana. Nela, o presidente brasileiro afirmou que Trump se comporta como se quisesse ser o "imperador do mundo".
Trump tem demonstrado disposição para reagir a qualquer movimentação envolvendo Bolsonaro, e a preocupação central do Planalto é que ele possa tentar aplicar sanções diretamente contra o ministro Alexandre de Moraes.
Nos bastidores, crescem os rumores sobre esse tipo de retaliação. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro e o blogueiro Paulo Figueiredo, ambos nos Estados Unidos, indicaram que Trump poderá anunciar medidas nos próximos dias. O recado foi claro: Moraes pode estar no centro da mira.
A sombra da Lei Magnitsky
Uma das ferramentas que o governo Trump pode usar contra o ministro é a chamada Lei Magnitsky, criada ainda no governo Obama. A legislação permite que autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos sejam alvo de sanções severas.
Veja as punições previstas na Lei Magnitsky:
Congelamento de bens sob jurisdição americana, o que afeta contas bancárias, investimentos e propriedades nos EUA;
Bloqueio de cartões de crédito com bandeiras americanas, mesmo fora dos Estados Unidos;
Proibição de entrada nos EUA;
Proibição de negociações com empresas e cidadãos americanos;
Suspensão de redes sociais e serviços digitais, como Gmail, YouTube, Google Drive e Google Pay, já que empresas de tecnologia dos EUA poderiam ser obrigadas a encerrar contas pessoais e institucionais do punido.
"Grande possibilidade"
A ameaça de sanção a Alexandre de Moraes deixou de ser apenas especulação. Nesta quarta-feira (17), o senador americano Marco Rubio, chefe do Departamento de Estado no Congresso, afirmou em audiência na Comissão de Relações Exteriores que a ofensiva contra Moraes está em análise.
“Isso está sob análise no momento e há uma grande possibilidade de que isso aconteça”, disse Rubio, em resposta ao deputado republicano Corry Mills, da Flórida.
Mills foi enfático ao apontar o que classificou como “alarmante declínio dos direitos humanos no Brasil”, além de denunciar “perseguição política” e a iminência de uma “prisão política de Bolsonaro”.
“Nós temos visto uma censura generalizada e perseguição política a toda a oposição, incluindo jornalistas e cidadãos comuns. E o que estão fazendo agora é uma iminente prisão por motivos políticos do ex-presidente Bolsonaro. Essa repressão se estende para além das fronteiras do Brasil e atinge indivíduos em solo americano”, declarou Mills, antes de questionar Rubio:“O que o senhor pretende fazer a respeito?”
Contexto sensível
Diante do tom adotado por representantes republicanos e da atuação ativa de aliados de Bolsonaro nos Estados Unidos, o governo brasileiro trata o assunto com discrição, mas não descarta desdobramentos diplomáticos. A preocupação é que a judicialização da política brasileira possa gerar impactos reais na relação entre os dois países.
A ação da PF, por sua vez, é vista internamente como um gesto claro da solidez institucional do Brasil — uma mensagem de que nem ameaças externas, nem pressões ideológicas, interrompem o funcionamento das instituições democráticas do país.












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