Autópsia revela que Juliana Marins morreu minutos após queda em vulcão na Indonésia: família alega negligência no resgate
- Deyse Melo
- 27 de jun.
- 4 min de leitura
Laudo confirma que alpinista brasileira morreu cerca de 20 minutos após a queda no Monte Rinjani; família acusa autoridades indonésias de negligência e promete acionar a Justiça.

A autópsia do corpo de Juliana Marins, alpinista brasileira que morreu após cair no Monte Rinjani, na Indonésia, confirmou que a jovem sofreu ferimentos graves e morreu pouco tempo depois do acidente. De acordo com o laudo médico divulgado nesta sexta-feira (27/06), a causa da morte foi um trauma contundente que provocou fraturas em diversas partes do corpo, lesões em órgãos internos e hemorragia intensa.
"Encontramos arranhões e escoriações, bem como fraturas no tórax, ombro, coluna e coxa. Essas fraturas ósseas causaram danos a órgãos internos e sangramento", explicou o perito forense Ida Bagus Alit, responsável pela análise. "A vítima sofreu ferimentos devido à violência e fraturas em diversas partes do corpo. A principal causa de morte foram ferimentos na caixa torácica e nas costas", completou.
Juliana, de 28 anos, caiu no sábado (21/06), durante uma trilha no ponto Cemara Nunggal — uma área íngreme e cercada por penhascos. As buscas duraram quatro dias, e seu corpo foi finalmente resgatado na quarta-feira (25/06). A jovem foi encontrada morta, mas imagens feitas por drones e relatos de outros alpinistas indicam que ela ainda estava viva nas horas seguintes à queda.
Morte ocorreu em cerca de 20 minutos após o acidente
A autópsia foi realizada na noite de quinta-feira (26/06) no Hospital Bali Mandara, para onde o corpo foi transferido em um freezer, após ser levado de ambulância desde a Ilha de Lombok, onde fica o Monte Rinjani. Segundo Alit, não havia sinais de que a morte tenha ocorrido muito tempo após o acidente.
"Por exemplo, havia um ferimento na cabeça, mas nenhum sinal de hérnia cerebral. A hérnia cerebral geralmente ocorre de várias horas a vários dias após o trauma. Da mesma forma, no tórax e no abdômen, houve sangramento significativo, mas nenhum órgão apresentou sinais de retração que indicassem sangramento lento. Isso sugere que a morte ocorreu logo após os ferimentos", explicou.
O médico estimou que Juliana tenha morrido cerca de 20 minutos após o impacto. Apesar disso, ele destacou que é difícil precisar o tempo exato devido à logística do resgate e ao transporte do corpo por várias horas até Bali.
Alit também descartou sinais de hipotermia:
“Não havia ferimentos tipicamente associados à condição, como lesões nas pontas dos dedos.”
Família aponta negligência e promete buscar justiça
A demora no resgate de Juliana gerou forte repercussão nas redes sociais. Familiares acusam as autoridades locais de negligência, afirmando que, se o resgate tivesse ocorrido no tempo ideal, a jovem poderia ter sobrevivido.
“Juliana sofreu negligência grave por parte da equipe de resgate. Se a equipe de resgate tivesse conseguido salvá-la dentro das sete horas estimadas, Juliana ainda estaria viva”, escreveu a conta @resgatejulianamarins, administrada por representantes da família.
“Juliana merecia mais! Agora buscaremos justiça para ela, porque é isso que ela merece!”
Internautas brasileiros também encheram as redes da Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas) e do presidente do país, Prabowo Subianto, com críticas sobre a lentidão do socorro.
Autoridades brasileiras prestam apoio
O governo brasileiro declarou apoio à família. O prefeito de Niterói, cidade natal de Juliana, afirmou que a prefeitura vai arcar com os custos de translado do corpo.
“Hoje mais cedo conversei com Mariana, irmã de Juliana Marins, e assumimos o compromisso da Prefeitura com o traslado de Juliana da Indonésia para a nossa cidade, onde será velada e sepultada”, escreveu Rodrigo Neves (PDT).
Já o presidente Lula afirmou que determinou ao Itamaraty “que preste todo o apoio à família, o que inclui o translado do corpo até o Brasil.”

Resgate enfrentou clima extremo e terreno hostil
As equipes de resgate locais afirmam que as condições climáticas adversas e o relevo do Monte Rinjani dificultaram os trabalhos. O chefe do parque nacional, Yarman Wasur, negou lentidão e disse que uma equipe foi mobilizada logo após o acidente.
“Formamos uma equipe imediatamente. O processo de formar uma equipe, preparar equipamentos e outros itens leva tempo. Esta equipe precisa ser profissional, pois envolve a segurança também da equipe de evacuação”, afirmou.
Yarman acrescentou que o local onde Juliana caiu tem uma inclinação de 45 graus e desce diretamente para um barranco. A topografia instável e a neblina dificultaram a localização do corpo, que chegou a ser dado como desaparecido.
Segurança na montanha é questionada
O acidente trouxe à tona críticas sobre a segurança no Monte Rinjani. Escaladores experientes apontam falta de estrutura adequada e falhas na sinalização de trilhas perigosas. Para o alpinista Galih Donikara, é essencial instalar barreiras de proteção e reforçar a presença de guias.
“Se for um barranco perigoso, deve haver uma cerca, corda ou outra barreira resistente”, disse.
O organizador Mustaal, que atua na região desde 2000, admite que a trilha onde Juliana caiu é uma das mais difíceis, exigindo alto nível de preparo físico e atenção dos escaladores.
Apesar da tragédia, ainda não há restrições para alpinistas iniciantes subirem até o cume. Especialistas pedem revisão nas regras e mais rigor nos critérios de segurança.
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