MC Poze do Rodo é solto após decisão da Justiça
- Deyse Melo

- 2 de jun.
- 3 min de leitura
Decisão judicial revoga prisão temporária de MC Poze e impõe medidas cautelares; desembargador critica exposição midiática e destaca presunção de inocência.

O cantor Marlon Brendon Coelho Couto, conhecido como MC Poze do Rodo, teve sua prisão temporária revogada nesta segunda-feira (2) após decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A liminar, concedida pelo desembargador Peterson Barroso Simões, garantiu ao artista o habeas corpus, estipulando uma série de medidas cautelares que deverão ser cumpridas enquanto as investigações prosseguem.
Apesar da decisão, até o fim da noite de segunda a Secretaria de Administração Penitenciária ainda não havia sido oficialmente notificada, e Poze seguia detido na Penitenciária Bangu 3, localizada no Complexo de Gericinó.
Na justificativa para a revogação, o magistrado destacou que não foi comprovada a necessidade da prisão como condição imprescindível para a investigação. Simões também fez duras críticas à atuação da Polícia Civil durante a detenção do cantor.
"Há indícios que comprometem o procedimento regular da polícia. Pelo pouco que se sabe, o paciente teria sido algemado e tratado de forma desproporcional, com ampla exposição midiática, fato a ser apurado posteriormente."
O desembargador ainda relembrou que Poze já havia sido investigado em processo similar anteriormente, sendo absolvido tanto em primeira quanto em segunda instância. Ele reforçou que o foco das investigações deveria estar nos responsáveis pelas organizações criminosas, e não em figuras públicas que, segundo ele, trabalham honestamente.
"O alvo da prisão não deve ser o mais fraco – o paciente, e sim os comandantes de facção temerosa, abusada e violenta, que corrompe, mata, rouba, pratica o tráfico, além de outros tipos penais em prejuízo das pessoas e da sociedade."
"Registre-se, na oportunidade, que aqueles que levam fortuna do INSS contra idosos ficam tranquilos por nada acontecer e, ao mesmo tempo, prende-se um jovem que trabalha cantando e ganhando seu pão de cada dia, podendo responder à investigação e processo criminal em liberdade. Tais extremos não combinam."
Além de ser liberado da prisão, Poze do Rodo deverá cumprir as seguintes medidas cautelares:
Comparecer mensalmente à Justiça até o dia 10 de cada mês para informar suas atividades;
Não deixar a comarca sem autorização judicial;
Manter telefone atualizado para contato imediato;
Comunicar previamente qualquer mudança de endereço;
Não manter contato com investigados, testemunhas ou pessoas ligadas à facção Comando Vermelho;
Entregar seu passaporte à Justiça.
"Decisão serena que restabelece a liberdade e dá espaço a única presunção existente no direito: a de inocência", afirmou o advogado do artista, Fernando Henrique Cardoso Neves.
Relembre a prisão
Poze foi preso no último dia 29 por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), sendo investigado por apologia ao crime, envolvimento com o tráfico e suspeita de lavagem de dinheiro em benefício do Comando Vermelho. O mandado de prisão foi cumprido em sua residência, num condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes.
Segundo a DRE, os shows do cantor ocorriam majoritariamente em áreas dominadas pelo Comando Vermelho, com a presença de traficantes armados para garantir sua segurança. A polícia também afirma que suas músicas exaltam o tráfico e o uso de armas, o que caracterizaria apologia ao crime.
As autoridades também alegam que esses eventos gerariam lucros que seriam revertidos para aquisição de drogas e armamentos.
“A Polícia Civil reforça que as letras extrapolam os limites constitucionais da liberdade de expressão e artística, configurando crimes graves de apologia ao crime e associação para o tráfico de drogas. As investigações continuam para identificar outros envolvidos e os financiadores diretos dos eventos criminosos.”
A prisão ganhou repercussão após vídeos de um baile funk na Cidade de Deus viralizarem. Nas imagens, traficantes assistiam ao show de Poze armados com fuzis, sem qualquer tentativa de esconder a identidade. O evento aconteceu dias antes da morte de um policial civil da Core durante uma operação na região.
Poze já havia se apresentado em outros eventos semelhantes, como em 2020 no Jacaré. Outros cantores também estão sendo investigados por apologia ao tráfico.
O advogado Fernando Henrique Cardoso defendeu a liberdade artística de seus clientes, incluindo Poze, Cabelinho e Oruam, e criticou a narrativa policial.
"Em relação a isso, essa narrativa de pesquisar determinado gênero musical, cena artística, primeiro o samba foi criminalizado. Isso não é novo. Essas supostas falas da polícia fazem parte de uma narrativa que criminaliza e exclui as manifestações artísticas.”
Durante a entrada no sistema prisional, Poze declarou ligação com o Comando Vermelho — informação que consta no campo "ideologia declarada" de seu prontuário. A ficha é obrigatória e ajuda a evitar conflitos entre facções dentro das unidades prisionais.
Com essa declaração, ele foi encaminhado para Bangu 3, que abriga presos ligados ao CV.












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