Danilo Gentili sai em defesa de Léo Lins após condenação: “Piadas não geram intolerância”
- Deyse Melo

- 4 de jun.
- 3 min de leitura
No The Noite, humorista defende liberdade artística e dispara contra a sentença que condenou Léo Lins.

O apresentador Danilo Gentili usou o espaço de seu programa The Noite, exibido pelo SBT, para se posicionar de forma contundente contra a condenação de seu colega de profissão, o comediante Léo Lins. Na última semana, Léo foi sentenciado a mais de oito anos de prisão por piadas consideradas racistas em seu show, que foi divulgado nas redes sociais.
Indignado com a decisão da Justiça, Gentili classificou a medida como censura e fez duras críticas ao que considera uma inversão de prioridades no Brasil.
"Bom, para quem não sabe, a Terceira Vara Criminal Federal de São Paulo condenou o comediante Leo Lins a 8 anos e 3 meses de prisão em regime fechado. A Justiça também condenou esse mesmo comediante a uma multa de R$ 1,4 milhão acrescida de R$ 300 mil de danos morais coletivos. Qual foi o crime do comediante Léo Lins? Contar piadas em um show de humor", iniciou Gentili.
Em sua fala, o humorista defendeu a liberdade artística e questionou o peso dado à atuação dos comediantes diante de outros problemas sociais mais graves no país.
"Esse show foi posteriormente postado no YouTube, e é o que tudo indica, isso foi um crime. Olha, no país em que o INSS é usado para fraudar velhinhos à força, a justiça puniu um comediante por contar piadas em um ambiente criado para isso, soa uma piada de mau gosto. Mas o Brasil é assim, é um lugar que o certo é duvidoso, o duvidoso é certo (...)", disparou.
Gentili também comentou sobre o papel do humor na sociedade, reforçando que não cabe a prisão ou censura para artistas, mesmo que as críticas existam.
"Todos que expressam uma opinião, seja no teatro, na poesia, na música, na ficção, no livro ou em forma de uma piada, todos podem ser criticados, questionados e até acionados em processos civis. Agora, que não podem hipótese alguma, é serem presos ou alvos de censura. Piadas não fraudam o INSS. Piadas não estimulam golpes (...). Piadas são apenas piadas."
O comediante continuou, detalhando a estrutura do humor e defendendo que, como forma de arte, ele deve ser preservado e protegido.
"E de fato, o humor não é um passe livre para cometer crimes, até porque o humor não comete crimes. Humor é baseado em fantasia, em ficção, em exagero (...). Humor é uma forma de arte e de escrita como qualquer outra."
Gentili aproveitou ainda para alertar sobre os perigos de se limitar a liberdade de expressão artística. Segundo ele, limitar o humor é o primeiro passo para censurar outras formas de arte.
"Olha, na minha carreira eu cansei de responder a pergunta: 'Qual é o limite do humor?'. (...) A próxima pergunta vai ser: Qual é o limite do funk? Qual é o limite da novela? Qual o limite da poesia? (...). Porque vai que queiram prender o ator ou atriz que matou ela por homicídio, porque é aqui que a gente tá chegando."
O apresentador fez questão de alertar que quem hoje apoia a condenação, pode amanhã ser alvo do mesmo sistema, e reforçou que a arte é uma válvula de escape para um cotidiano marcado por injustiças.
"Desde Aristófanes, na Grécia antiga, a sociedade entende que comédia e ficção são uma coisa e que realidade é outra coisa. (...) Válvulas de escape para a gente poder rir e se distrair em um mundo que é muito duro, cruel (...). E se a gente como sociedade passar a aplaudir decisões que silenciam artistas, independente da arte que eles expressam, algo está muito errado e a gente está na beira do abismo."
Por fim, Gentili relembrou a própria experiência com a Justiça, quando também foi condenado por piadas em primeira instância — decisão que acabou revertida na segunda.
"Essa é a segunda vez aqui no Brasil, que um comediante é condenado à cadeia em primeira instância. A primeira vez aconteceu comigo, alguns anos atrás. (...) Eu torço para que o Leo não seja preso, a gente não precisa dessa piada de mau gosto, que é prender comediante por contar piadas."
A fala de Gentili reverberou nas redes e reacendeu o debate sobre os limites do humor e a liberdade de expressão no Brasil.
Veja o desabafo na íntegra:












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